Impiedosa
era a vida que eu levava, impiedoso era eu que me calava perante a minha própria
sombra, mesmo ainda na prematuridade, regida pela ignorância, já conseguia me
afogar na lama dos meus pensamentos, tamanha era minha tolice, esta que eu
jogava aos outros, que julgava longe de mim. Perdido eu já sabia que estava,
mas predestinado eu não aceitava.
Percebia o
universo fluíndo enquanto eu caía, toda aquela roda girava só para me levar ao meu
verdadeiro lugar, mas antes de chegar, dormi, e acordei nos sonhos, alguns me pediam
socorro, outros me derrubavam com a minha vontade... antes não via assim, antes
eu não me enxergava a empurrar o verdadeiro eu da escada. Eu segurei a arma, as
sombras puxaram o gatilho, mas no fim era eu quem me atingia.
Se aquelas verdades
fossem uma cobra, hoje eu estaria blasfemando deitado no eterno colchão material,
mas aquelas verdades se explicaram como uma criança, uma inteligência de expressão
simples, que calou minhas calúnias, e sem julgar, me levou para o lugar que estou.
Ícaro L. Mendes